domingo, 20 de julho de 2008

Paróquia Nossa Senhora de Fátima (Igrejinha)


Um ano depois da posse de JK, a família Kubitschek sofreu o impacto de saber que Márcia, de 14 anos, filha do casal, estava seriamente enferma. Juscelino era médico, pôde logo avaliar a gravidade do caso. Cursando o segundo ano colegial, Márcia precisou desistir do curso. Sua irmã (adotiva) Maristela, um ano mais velha, por solidariedade desistiu também, passando as duas a estuda em casa, com professores particulares. Após ouvir especialistas brasileiros, e aconselhado por eles, o presidente decidiu que a filha iria tratar-se em Oxford - Inglaterra, na clínica mundialmente considerada modelo do Dr. Joseph Trueta, espanhol de nascimento, mas radicado na Grã - Betanha. A essa altura chegou ao Brasil, em visita oficial, o presidente de Portugal, Craveiro Lopes, que pousou em Brasília no dia 20 de junho de 1957. A cidade ainda não existia, as obras estavam apenas começando, e Craveiro Lopes pernoitou no Catetinho, voando no dia seguinte para o Rio. O Catetinho não era este que hoje ainda existe na matinha da antiga Fazenda do Gama, mas um outro construído com menos pressa e mais conforto ao lado do primeiro, e que às vésperas da inauguração foi retirado do local e vendido. Nessa noite em que o presidente português pernoitou em Brasília, os termômetros registraram temperatura baixíssima, de apenas 3º centígrados.
Dona Berta Craveiro Lopes, mulher do presidente, viera com ele ao Brasil. No encontro com
Dona Sarah Kubitschek ficou sabendo da doença de Márcia e da angústia da família. Aconselhou Dona Sarah a rezar a Nossa senhora de Fátima pedindo a cura da filha. Contou as graças e os milagres que vinham sendo alcançados todos os dias pela intercessão da virgem e prometeu que ao retornar a Portugal faria peregrinação a Fátima para rezar e pedir
por Márcia. Emocionada Dona Sarah iniciou logo suas orações, e prometeu a Nossa Senhora que a primeira igreja de Brasília seria a ela consagrada. Márcia, encaminhada ao Dr. Trueta, na Inglaterra, foi atendida por ele. Mas ela própria, Dona Sarah e toda a família sempre atribuíram à virgem de Fátima sua cura.
Em 26 de outubro daquele ano de 1957, Juscelino lançou a pedra fundamental da Igrejinha, um projeto de Oscar Niemeyer. Oito meses depois, a consagração da igreja foi oficializada por D. Fernando Gomes dos Santos, bispo de Goiânia e com jurisdição sobre Brasília, localizada em território ainda goiano aquela data. A solenidade aconteceu em 28 de junho de
1958, com a presença de Juscelino, do Núncio Apostólico e do novo embaixador de Portugal,
Manuel Rocheta, que seria o primeiro diplomata a apresentar suas credenciais na cidade em
construção, o que aconteceria dois dias depois, no dia 30, após a inauguração do Palácio da
Alvorada.
O Núncio Apostólico, D. Armando Lombardi, leu a Benção Apostólica do Papa Pio XII na qual
sua Santidade dizia que "a Igreja de Nossa Senhora de Fátima de Brasília seria um centro irradiador de intensa fé cristã". Logo após a consagração da igreja, realizou-se nela o casamento de Maria Regina Uchoa Pinheiro com Hindemburgo Chateaubriand Pereira Diniz, a noiva filha de Israel Pinheiro, presidente da Novacap responsável pela construção da cidade, e o noivo filho do deputado federal Pereira Diniz. Assis Chateaubriand, famoso jornalista e empresário, foi padrinho do noivo.
Os Frades Franciscanos Capuchinhos, Frei Bernardino Vilas Boas e Frei Demétrio Encantado, ambos gaúchos, foram os primeiros sacerdotes da Igrejinha. Tornaram-se muito populares na cidade em obra e mesmo depois da inauguração. Juscelino conta em seu livro "Por que construí Brasília" um curioso episódio envolvendo os dois Frades. No dia 1º de fevereiro de 1959 o presidente voou até Açailândia para participar do encontro das duas turmas que construíram a rodovia Belém-Brasília. Uma turma descia do Norte, outra subia do Sul, e nessa data se encontrariam concluindo a abertura da estrada na floresta. Houve um grande churrasco, servido num imenso galpão de madeira e realizou-se uma missa campal, num altar improvisado, oficiando os dois Frades Capuchinhos. Ao final da missa, conta Juscelino, "esses dois sacerdotes, examinando a floresta em torno, encontraram um grupo de pequenas árvores, cobertas de cipó e orquídeas, cuja silhueta lembrava a imagem da Virgem Maria, com o Menino Jesus ao colo. O achado despertou entusiasmo. Aproximei-me para ver.
De fato, era Nossa Senhora que ali estava, esculpida pela mão da natureza. As lianas haviam-se cruzado com os ramos; as folhas tinham sido dobradas de forma caprichosa; os cipós, indo e vindo, urdiram um bizarro desenho; e tudo isso, combinado com e presença de tufas de folhagem, do emaranhado deuso de taguaris, havia criado a figura da santa - perfeita, nítida, destacando-se no fundo verde da floresta, como se estivesse num nicho.
Alguém sugeriu dar-se-lhe o nome de Nossa Senhora da Floresta, o Reitor Pedro Calmon viu
naquela descoberta uma revelação da presença divina, e subindo num trator invocou a proteção da Virgem para os bravos mateiros que, arrastando perigos e renunciando a qualquer espécie de conforto, haviam rasgado a rodovia.

Nenhum comentário: